Como planejar a temporada de monta?
Postado em 06/04/2024
A reprodução equina vem ganhando nos últimos anos um espaço fundamental na equideocultura brasileira principalmente pelo melhoramento genético que vem realizando nas criações. Para isso, temos como principal ferramenta, as biotecnologias da reprodução, como a inseminação artificial, transferência de embriões, a congelação de sêmen, entre outras.
A espécie equina é considerada poliéstrica estacional, ou seja, ela apresenta seu ciclo reprodutivo em apenas um período do ano que para essa espécie é durante a primavera e verão, onde a quantidade de luz diária é maior. O aumento dessa luz diária neste período do ano para o equino estimula uma atividade hormonal e ovariana onde observamos o início de ciclos regulares.
Devido a essa fisiologia, a reprodução dos equinos vai ocorrer em uma determinada época do ano que é chamada de temporada ou estação de monta. Esse período pode ser mais longo ou mais curto dependendo principalmente da região que estão estes animais. No Brasil, esta estação reprodutiva inicia geralmente nos meses de agosto/setembro e perdura até os meses de março/abril. Nos países do hemisfério norte esta estação de monta é invertida pois enquanto no hemisfério sul temos verão, eles estão no inverno e vice-versa.
A estação de monta 2023-2024 esta chegando ao fim e nesse momento devemos iniciar a pensar na temporada 2024-2025. Essa programação deve ser feita com antecedência para não perdermos tempo durante o período de monta que deve ser focado nas coberturas ou inseminações artificiais. Principalmente para algumas raças como quarto de milha e puro sangue inglês, existe um calendário hípico que no Brasil inicia-se no dia 10 de julho. Com isso, são considerados animais “bem nascidos” aqueles onde os partos ocorrerem o mais próximo desta data. Animais que nasçam em meses mais avançados serão considerados animais tardios.
Nestas raças então, a necessidade de uma prévia programação torna-se indispensável, pois para emprenharmos uma égua no mês de agosto, muitas vezes temos uma tarefa árdua devido a fisiologia da égua. Elas podem ainda não estar ciclando nestes meses, sendo nestes casos necessário a realização de um programa de luz, que tem por objetivo mimetizar a luz solar através de luz artificial fornecida em baias. Este fornecimento deve apenas complementar a diferença de luz que temos no verão e inverno que fica em torno de 4-6 horas. E como nesse processo as mudanças nas éguas são lentas, devemos iniciar um programa de luz pelo menos 60 dias antes do inicio desejado das coberturas.
Além disso, é interessante dentro desta programação da estação de monta, a definição dos cruzamentos desejados, a forma que serão realizados, através de monta natural, inseminação artificial ou mesmo transferência de embriões. Neste último caso a compra prévia de receptoras é indispensável para uma adaptação das mesmas na nova propriedade favorecendo as taxas de prenhez.
Geralmente no início da temporada de monta, nos meses de agosto/setembro, as éguas passam por um período de adaptação chamado de transicional, onde apresentam cios irregulares e normalmente anovulatório, ou também conhecidos como cios falsos. Muitos proprietários a verificar esse cio iniciam as montas que muitas vezes resultam em baixas taxas de prenhez. Nesse momento o ideal é a presença de um médico veterinário habilitado que com o auxilio da ultrassonografia pode definir o momento que a égua apresentara o primeiro cio fértil evitando montas desnecessária e verificando a primeira ovulação da temporada.
A partir deste momento podemos dizer que a temporada de monta iniciou e então ciclos regulares de 21 dias irão ocorrer. Neste momento novamente a presença do médico veterinário é fundamental pois o cio da égua dentro de todo o ciclo dura 7 dias, com isso sem o auxilio de um acompanhamento fica difícil de identificar o momento certo da ovulação. Com esse serviçoespecializado podemos otimizar o número de coberturas que o garanhão é submetido.
Tradicionalmente e por muitos anos é utilizadoo protocolo de iniciar as montas a partir do momento que a égua apresenta cio até este desaparecer. Assim em um período de 7 dias essa égua será coberta por 3 ou quatro vezes respeitando o intervalo de um dia. No entanto, com o auxilio da ultrassonografia podemos indicar o momento da cobertura mais próxima da ovulação e então aumentar as taxas de prenhez e principalmente preservar o sêmen do garanhão que quando exposto a coberturas diárias que poderá ser levado ao um desgaste excessivo e muitas vezes ao um esgotamento espermático.
Durante a estação de monta, após os trabalhos de coberturas ou inseminações artificias, podemos a partir de dias após a ovulação verificar a presença de uma gestação ou ausência dela através novamente com o auxilio da ultrassonografia. Isso nos permite dentro da temporada de monta organizar lotes de éguas prenhas que irão necessitar de um aporte nutricional melhor e até mesmo iniciar a controlar as éguas que não emprenharam para uma nova cobertura ou inseminação artificial.
Uma situação que deve ser sempre acompanhada de perto são as gestações gemelares (gêmeos) que na espécie não é tolerada e é considerada a maior causa de aborto. Muitos proprietário ao diagnosticarmos a presença de gêmeos aos 11-12 dias de gestação em suas éguas nos perguntam: Então por que não retirá-los e transferi-los para duas receptoras (“barriga de aluguel”)? Essa é situação delicada pois com 8 dias de gestação não é possível verificar a presença da prenhez devido ao pequeno tamanho da vesícula embrionária e a partir de 10-11 dias, onde já vemos no ultrassom, não é mais possível retirar o embrião e transferi-lo com boas taxas de sucesso devido agora a grande dimensão do embrião. Esse é um típico exemplo de não planejamento, pois poderiam ter sido coletados dois embriões, transferidos a duas receptoras, porém no momento correto.
Por todos esses motivos o planejamento de um estação de monta deve ser prévio e bem feito, fazendo com que os índices reprodutivos dentro da propriedade sejam os melhores.
